sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A terra treme no Oriente Médio


Por Lejeune Mirhan

Afastado alguns meses por outros compromissos das colunas semanais do Portal Vermelho, retorno agora ao objeto de meus estudos e pesquisa há quase trinta anos – o Oriente Médio árabe – a convite desta vez do portal da Fundação Maurício Grabois na condição de colaborador. E retorno em um momento especial: a terra treme em todo o Oriente Médio em termos políticos. 


Dias de Fúria


Em termos de história, na maior parte do tempo, sejam em atitudes pessoais, atos coletivos e mesmo descobertas e invenções, nem sempre aquilatamos as dimensões que essas atitudes e descobertas podem ter na história da humanidade e no futuro imediato ou de médio e longo prazo.

Pois arrisco um palpite que o caso do jovem de 26 anos Mohammed Boazizi, vendedor de frutas ambulante, mas com formação universitária, é um desses casos. Inconformado com o fato da polícia ter tomado seu carrinho, seu ganha pão, decidiu imolar-se em frente ao palácio presidencial onde governava desde 1988, por longos 23 anos Zine Abdine Ben Ali. A partir desse momento, até a queda do ditador em 16 de janeiro, transcorreram 27 dias de grandes manifestações. A polícia atacou com fúria a multidão diariamente, que, de peito aberto, a enfrentou. O ditador – chamado durante todos esses anos de “presidente” por ser amigo de Washington – fugiu em debelada com sua família e, dizem, com mais de cem malas carregadas de ouro e dólares.

Em vários outros países ocorreram imolações nas capitais árabes. Essa forma de manifestação não é novidade no movimento popular. Foi muito usada pelos monges budistas na década de 1960, contra os EUA na Guerra do Vietnã. Na Guerra dos Bálcãs na década de 1990, em especial na Albânia esses episódios também ocorreram.

Toda a região do Oriente Médio, nos 22 países árabes (incluindo a palestina que ainda não tem seu Estado nacional), possui governos longevos. Ou são monarquias absolutistas ou são ditaduras disfarçadas de democracias, onde a cada cinco ou seis anos, fazem-se “eleições” farsescas, fraudulentas para tentar legitimar ditadores amigos dos Estados Unidos, para garantir ao império norte-americano a defesa de seus interesses nessa estratégica região, em especial a garantia do fluxo de petróleo para a América, a passagem dos seus navios petroleiros e cargueiros pelo Canal de Suez, garantir, fundamentalmente, a existência do estado racista e sionista judaico de Israel, algoz do povo palestino.

No entanto, há uma diferença imensa de alguns protestos e mesmo a derrubada de um ditador na Tunísia, protestos na Jordânia contra o Rei Abdulláh 2º, no Iêmen do ditador Ali Abdulláh Saleh no poder há 32 anos ou até contra o rei Abdulláh Bin Abdel Aziz, da família saudita que governa a Arábia Saudita há séculos (até o nome do país vem do ancestral Ibn Saud) e o que esta agora acontecendo no Egito.

O Egito, cujos protestos iniciaram-se desde a queda do ditador tunisiano, as coisas são completamente diferentes. É o maior país árabe, com 80 milhões de habitantes e aliado estratégico tanto dos Estados Unidos como de Israel, pois se coloca como inimigo dos árabes e dos palestinos.

Pretendia dar um panorama geral de todos os outros países árabes neste momento, com suas encruzilhadas históricas, em especial o Líbano, a Palestina e o Iraque. No entanto, ainda que os problemas desses países que mencionei se insiram no contexto geral de que comentarei sobre o Egito em particular, esta análise ficará por demais longa se tratasse de todos. Ficarão para as próximas colaborações que enviarei.
 Egito, um país estratégico

O Egito é um dos países árabes mais milenares, ao lado da Síria. É claro que é justo falar de uma época dos faraós e suas dinastias e outra do momento no século VII quando foi ocupada pelos muçulmanos do Império Árabe.

O marco fundamental do Egito ocorre com a revolução de 1952 que derruba o rei Farouk e instaura a República, foi uma iniciativa dos jovens oficiais livres, liderados pelo coronel Gamal Abdel Nasser. Um presidente interino foi colocado no poder, o general Mohammad Naguib, que durou até 1954. Dessa data em Dante, esse país, que diz fazer eleições regulares para presidente, teve apenas e tão somente três presidentes. O primeiro deles, Nasser, o maior e mais querido líder árabe da história, governou de 1954 até 1970 quando morreu. Anuar El Sadat assume e é assassinado em 1981 e de lá para cá, Hosni Mubarak, o ditador de plantão foi “eleito” e reeleito nada menos que seis vezes, muitas vezes com votações que atingiam quase cem por cento.

Sempre foi amigo dos Estados Unidos. Governou com a mão de ferro esses trinta anos e nem sequer teve a pretensão e nem precisou indicar um vice-presidente. Era vice de Sadat desde 1975, como chefe da Força Aérea. Após a assinatura dos acordos de paz com Israel em 1979, sob os auspícios da administração Carter após as conversações de Camp David em 1978, Mubarak vai ganhando destaque até que, com o assassinato de Sadat por extremistas islâmicos que o consideraram traidor, assume definitivamente a presidência.

O Egito sob o seu governo viveu trinta anos de corrupção e repressão do povo, dos sindicatos e dos partidos de esquerda e progressistas. Reprimiu, em nome de uma suposta laicidade, a organização Irmandade (ou Fraternidade, dependendo da tradução) Muçulmana, fundada por Hasan Al Banna, em 1928, sob a inspiração de Sayyid Qutb (falaremos dela posteriormente).

O Egito é o país do OM que mais recebe ajuda direta do tesouro americano, autorizado pelo Congresso dos Estados Unidos. Isso significa em torno de dois bilhões de dólares ao ano nos últimos trinta anos pelo menos. Israel recebe o dobro, ainda que tenha um décimo da população egípcia.

Não é a primeira vez que as massas egípcias vão ás ruas e mesmo com as atuais dimensões (a manifestação do último dia 1º de fevereiro, terça-feira, atingiu dois milhões de pessoas, apesar da imprensa ocidental e brasileira falar em “alguns milhares”...). O povo já havia protestado contra a ocupação turca e depois britânica nos idos dos últimos anos da década de 1910 no século passado.


No entanto, as características atuais são completamente distintas.


O momento delicado que vive o Egito


Quero a seguir, com base na literatura internacional a que tivemos acesso, tecer diversas considerações sobre a realidade desse histórico e estratégico país, sob diversos aspectos, citando, sempre que possível, a fonte.

1. A economia do país – o Egito vive um modelo econômico de absoluta inspiração neoliberal. Privatizou praticamente metade das suas antigas 300 empresas estatais, em especial as estratégicas. É o chamado capitalismo financeiro, que engordou as contas das famílias e grupos rentistas do país em detrimento da pauperização das amplas massas árabes. Como diz Pepe Escobar em seu blog, é como se o vírus latino-americano contra o neoliberalismo tivesse contaminado o Egito e todo o OM. O desemprego é elevadíssimo e a renda per capita não cresce há anos. O FMI dizia para todo o mundo que o Egito era um “modelo de economia a ser seguido” (corte de gastos, juros altos, sem controle de câmbio, arrocho salarial... aliás, muito parecido com as primeiras medidas do governo brasileiro). Esse é o contexto econômico em que ocorreram as manifestações na Praça Tahrir (Praça da Liberdade);

2. A Questão política – o Egito e qualquer outro país árabe nunca foi exemplo de democracia. Não pelo menos nos moldes do que estamos acostumados no Ocidente e no Brasil desde a redemocratização em 1985. Não há liberdade de imprensa, nem liberdade partidária. No parlamento, o único partido consentido, a Irmandade Muçulmana, elegeu nas eleições parlamentares de 2005, 88 deputados de um total de 454 cadeiras (19,38%).

A parceria estratégica que o Egito mantém com os EUA tem diversos objetivos. O maior deles é o controle do Canal de Suez, por onde passam boa parte dos petroleiros e navios transoceânicos de luxo de todo o mundo. Boa parte da economia mundial depende dessa passagem que liga o Mar Vermelho ao Mediterrâneo. O Canal era explorado pela Inglaterra, mas foi nacionalizado por Nasser em 1956, na mais firme e heroica atitude tomada por um dirigente árabe em toda a história.

Além disso, a mais estratégica passagem entre o Egito e a Faixa de Gaza, a cidade de Rafah, esta sob total controle do governo Mubarak. Para asfixiar Gaza e os palestinos, Mubarak mantém com mão de ferro o total controle dessa fronteira, fazendo o jogo de Israel, que lhe pede repressão maior a cada dia. O exército americano esta inclusive construindo uma muralha de aço para separar a fronteira egípcia e palestina.

Em recente declaração do vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Bidden, este confessou em público o que todos sabem: afirmou com todas as letras que Mubarak não pode ser chamado de ditador. Que seria ele então?

O exemplo tunisiano e algumas imolações ocorridas também no Cairo foi a gota d’água para as manifestações. A imprensa insiste em vincular isso com a questão islâmica, mas isso é um equívoco. O levante é popular e não islâmico. Isso esta claro. São cidadãos egípcios que saem às ruas para pedir um basta à ditadura Mubarak, que até outro dia era chamado de “presidente” por essa mídia internacional e a brasileira, hipócrita como sempre.

O que vimos na imprensa ser chamada de Revolução Egípcia, pode sim ter características de revolução, a depender de quem a dirija e dos rumos que ela possa tomar de ora em diante. Não há como negar que os Estados Unidos lutam com todas as suas forças e armas, para ter o controle de um processo de transição que não faça com que o aliado histórico se afaste de sua órbita de influência (mais abaixo comentarei sobre Israel ainda). O próprio Lênin dava as características de uma situação que pode ser revolucionária, quando ele dizia que “os de cima não mais conseguem governar como antes e os de baixo já não aceitam mais ser governados como antes”. É o caso do Egito.

Ainda assim, a chamada revolução egípcia ainda não da sinais de que tem seu caráter antiamericano, anti-EUA. É sim, de forma clara, uma revolução anti um regime apoiado abertamente pelos Estados Unidos, mas isso é diferente. Sigo de acordo com a opinião da imensa maioria dos analistas internacionais a que pude ler seus despachos, qual seja, de que qualquer regime que suceda Mubarak, é muito pequena a probabilidade de que seja serviçal e dócil com os Estados Unidos. Nesse sentido e por si só, isso já representa uma derrota para o império norte-americano e sinalizam problemas para Obama, mais dos que ele os têm, tanto no front interno e externo. É como se Washington tentasse a todo custo, sequestrar a revolução egípcia, realizando uma transição pacífica e de colaboração que preserve o futuro de Mubarak e seus aliados e os interesses norte-americano e israelenses. E que o modelo neoliberal seja preservado.

Aqui, registro algumas observações:

• Não há uma animosidade contra os Estados Unidos; sintonizo o tempo todo ao vivo a TV Al Jazeera (veja o link http://english.aljazeera.net/watch_now/) e não vi uma bandeira norte-americana sendo queimada; tampouco vejo animosidade contra os estrangeiros em geral; os cartazes não me parecem ser antiamericanos;
• Como diz Fisk, os egípcios deram gargalhadas quando viram Barak Obama na TV “conclamar” que Mubarak “abrace a democracia”, depois desse ter servido fielmente com sua ditadura aos interesses estadunidenses;
• Soa profundamente hipócrita, segundo Borón, que tanto Obama como sua secretária Hilary Clinton, apelando para que um regime corrupto e repressivo como poucos no mundo inteiro, trilhe agora um caminho de reformas democráticas, econômicas e sociais;
• O movimento popular não mirou em nenhum momento, como seus alvos estratégicos, como diz Chossudóvsky, que poderiam ser simplesmente a embaixada norte-americana no Cairo, os escritórios nacionais do FMI e do Banco Mundial, e mesmo as bases americanas no Egito;
• Vive-se, na visão de Pepe Escobar, uma espécie de Intifada egípcia, nos moldes das duas que ocorreram na palestina, em 1987 e 2000;

3. Os que protestam – como dissemos, a oposição vivia momentos de quase total desmobilização; milhares de seus líderes encontram-se ainda encarcerados e muitos foram cooptados pelo próprio regime. A juventude toma, como sempre, a dianteira. No entanto, os repórteres que acompanham de perto as manifestações na Praça da Liberdade, registram que são, além de estudantes e desempregados em geral, operários, a classe média, advogados e juízes, médicos, professores, doutores da mais antiga universidade do mundo, a Al Azhar, camponeses, teólogos, jornalistas e tantas outras profissões. Quanto à sua religiosidade, temos muçulmanos em sua maioria, mas cristãos cooptas. Mas, em momento algum se viu um caráter religioso das manifestações.

Formam-se neste momento por todo o país, os chamados comitês populares. O Partido Comunista Egípcio emitiu nota contundente condenando toda a repressão, conclamando o “Fora Mubarak” e a formação de um governo de unidade nacional. O povo nas ruas grita que “exército e povo são aliados”. O slogan que mais se escuta nas manifestações é “não a outro mandato; não á uma república hereditária”, em uma alusão a possibilidade de Mubarak indicar seu filho, Gamal, para assumir o poder em setembro (em árabe La lil-tamdid; La lil-tawrith). Nas paredes pichadas, como que lembrando Maio de 1968, lê-se “Queremos derrubar o sistema”. Cidadãos comuns, unidos, carregam a bandeira egípcia com orgulho. Quiçá isso retorne e desemboque na volta do nacionalismo e o pan-arabismo das décadas de 1950 e 1960 do século passado. Ouve-se ainda “Mubarak, vá-se para sempre! Mubarak, mostre alguma dignidade! (em árabe isso até rima).

4. A oposição – como tem dito a grande imprensa, parece que a revolução egípcia não tem rosto, não têm líderes, os partidos quase não aparecem. Quero comentar aqui alguns deles:

• Associação Nacional pela Mudança – é liderada pelo ex-presidente da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohammed El Baradei, Prêmio Nobel da Paz. Baradei, um técnico de prestígio internacional e de carreira na ONU, passou quase 15 anos fora do país. Ninguém atinge um posto desse sem ter sido de confiança quase que absoluta dos EUA. No entanto, nos últimos dois anos de seu segundo mandato à frente da AIEA, Baradei desalinhou dos EUA quanto ao programa nuclear do Irã. Cumpriu um papel positivo, no sentido de afirmar ao mundo que os técnicos da agência não atestavam o programa iraniano com objetivos de fabricar a bomba. É claro, ele é um político moderado, independente. Mas, já esta tentando se cacifar pelo menos neste momento de transição e recebeu autorização de cinco partidos para tentar formar um gabinete de transição; pode emplacar ou não;
• Partido Al Ghad – de linha republicana, liderado por Ayman Nour, que disputou com Mubarak a presidência em 2005, sendo esmagado pela fraude eleitoral; de linha centrista;
• Partido Wafd – sob a liderança de Al Sayed Al Badawi, de linha liberal e moderada;
• Movimento “6 de Abril” – uma organização juvenil, de centro-esquerda;
• Kefaya – movimento laico, integrado por sindicalistas e intelectuais de classe média;
• Irmandade Muçulmana – disputam apenas o parlamento e nunca passam de 20% dos votos. Seu atual líder é Mohammad Badias. A Irmandade tem estado discreta nas manifestações, mas sabemos que participa ativamente. O Ocidente quer mostrar que é um pavor a tomada do poder pelos muçulmanos, mas isso apenas como forma de jogar terrorismo e preconceito na cabeça das pessoas. Ate porque esse agrupamento não propõe – assim como o Hamas na Palestina e o Hezbolláh no Líbano, nunca propuseram um estado islâmico (o Hamas na sua fundação propunha, mas mudou de posição). Essa Irmandade egípcia, que inspirou todas as outras nos países árabes, é na verdade uma organização moderada na política. Não falam em ruptura com o modelo capitalista e defendem a propriedade privada. É conservadora também do ponto de vista da moral e dos costumes. Presta mais serviços sociais de apoio à população pobre com baixa atuação na classe média de alta escolaridade e com intelectuais;
• Partido Comunista Egípcio – fundado em 1922, fará, tal qual o PCdoB, 89 anos. Atua na mais absoluta clandestinidade, tem influência em setores sindicais e estudantis. Possui muitos de seus quadros dirigentes encarcerados, mas atua na linha de frente das amplas manifestações deste janeiro.

Pelo fato da Irmandade ser o agrupamento mais importante na política egípcia, vale a pena saber quais seriam as suas propostas neste momento. Defendem a nomeação de um 1º Ministro interino e que uma comissão de juízes faça uma imediata revisão da constituição e que eleições livres e gerais sejam convocadas para o parlamento e para a presidência. Poderia aceitar o moderado do Baradei na linha de frente desse governo provisório de união nacional.

Mubarak ainda não deu sinais, apesar da pressão popular, da opinião pública e mesmo das pressões norte-americana para uma transição mais abreviada, ainda que controlada, de que vai deixar o poder. Para isso nomeou um vice-presidente. Não poderia ter sido pior, pois indicou um tenente-coronel do exército, vinculado ao setor de espionagem e informações, um homem avesso à democracia e ao processo de transição, conhecido torturador. Parece-nos que isso seria uma decisão parecida com a que tomou o Xá do Irã, Reza Pahlevi em 1978, um ano antes de sua queda e fuga para o mesmo Egito atual, quando indicou um 1º Ministro chamado Shapour Baktiar. Mas, tal manobra não surtiu efeito, pois a partir de março de 1979, uma insurreição popular, dirigida pelos setores mais progressista da sociedade iraniana, derrubou o governo despótico do Xá.

5. A cobertura da mídia – a mídia procurou esconder as manifestações iniciadas em Túnis, capital da Tunísia. De um modo geral, tanto no Brasil, como no mundo, o Oriente Médio é deturpado e mesmo desconhecido. Reforça-se um imenso preconceito contra esse povo e sua religião majoritária, o Islamismo. Estereótipos são reforçados, mostrando-se os muçulmanos como radicais e mesmo terroristas. A ombudsman da Folha, Susana Singer, em sua coluna de domingo, 30 de janeiro, criticou a cobertura do próprio jornal, dizendo que demorou para enviar correspondentes e nunca explicou bem aos seus leitores o significado daquela região do mundo. E agora, recebendo material e despachos das grandes agências, procura ficar na superficialidade e não mostra a questão central, política e ideológica.

Os jornalões brasileiros em particular, só despertaram para enviar correspondentes depois de quase um mês de manifestações e da queda do ditador tunisiano. Descobriram depois de 23 anos na Tunísia e 30 no Egito que ambos os países eram uma ditadura. Chamaram, até uma semana atrás, os respectivos ditadores Ben Ali e Mubarak de “presidente” (sic). E, mesmo quando enviaram correspondentes para a região, estes passaram a cobrir mais os que eles chamaram de atos de vandalismos e saques, desconsiderando o conteúdo político e mesmo revolucionário das manifestações.

Essa mesma imprensa, como diz Fisk, omite que tais saques e vandalismos são feitos por agentes e milicianos ligados ao governo Mubarak, chamados de battagi que em árabe quer dizer literalmente de “bandidos”. São, em sua maioria, ex-policiais, viciados em drogas. Como diz o competente jornalista Antônio Luiz Costa de Carta Capital, “a mídia Ocidental cobre os protestos do Cairo com muito menos entusiasmo do que os ocorridos em Teerã em 2009; protestos só interessam quando são pró-ocidentais e a democracia só convém quando a preferência dos eleitores coincide com os de Washington”. Uma conclusão correta e clara.

6. Ditadores e Legitimidade – ninguém gosta de ditadores. Mas, como disse em longa entrevista que concedi à Rádio CBN de notícias no último dia 30 de janeiro domingo (que o leitor pode ouvir por este link http://cbn.globoradio.globo.com/programas/revista-cbn/2011/01/30/MONARQUIAS-PRO-AMERICANAS-PODEM-SER-AFETADAS-POR-CRISE-NO-EGITO.htm) não se trata de escolher um ditador melhor que o outro. Todos sabem que Saddam Hussein, quando era amigo dos EUA, e bombardeou o Irã em uma guerra absurda em que morreram um milhão de pessoas de ambos os lados, era chamado pela imprensa norte-americana de “presidente” Saddam. Depois que passou a atacar os EUA, passou a ser “ditador” Saddam.

A legitimidade de um governo não provém e nem emana sempre das eleições ditas democráticas nos moldes que conhecemos no Ocidente. A prova disso é que a democracia norte-americana é uma farsa. Praticamente só dois partidos concorrem e só tem chance quem tem bilhões de dólares para pagar a propaganda nas mídias.

Gamal Abdel Nasser praticamente nunca foi eleito nos 16 anos que esteve á frente do governo do Egito. No entanto, era adorado pelos egípcios. As tarefas que ele executou, o conteúdo e o caráter de classe do Estado e do governo egípcios eram claramente antiimperialistas. Sua morte em 1970 levou um milhão de egípcios às ruas em seu funeral e outros milhões em todas as capitais árabes. Ele nunca foi chamado de ditador pela esquerda e pelo imprensa árabe.

Como diz Juan Cole em seu blog, o “estado nasserista com todos os seus problemas, teve legitimidade porque era visto como um estado para a grande massa dos egípcios, tanto para os de fora como os de dentro do país; o atual de Mubarak, é visto no Egito como um estado para os outros: EUA, Reino Unido, França e Israel e é um estado para poucos – os ricos e neoliberais”.

Isso vale para o presidente Bashar El Assad, da Síria. Ele “herdou” o governo de seu pai, Hafez El Assad, morto em 1999 (governava desde 1970). A Síria hoje é o país que mais enfrenta o imperialismo norte-americano, ao lado do Irã. Na sua capital, Damasco, grupos revolucionários, de esquerda, progressistas e patrióticos mantém livremente seus escritórios. É o país árabe que mais apoia a causa palestina. No entanto, as eleições ocorrem nos mesmos moldes que as egípcias. Não há comparação de um com o outro.

Na ciência política marxista costumamos dizer que o que assegura o caráter de classe de um estado pode ser respondida quando a seguinte questão estiver clara: contra quem (qual classe social) e a favor de quem age a máquina do estado. Respondido isso, sabe-se o caráter de classe de um estado. Não estou entre os que veem na democracia um valor universal.

Problemas para Israel. O fortalecimento do Irã

Também sobre isso não tenho a menor dúvida. Quem mais perde neste momento, nesta situação pré-revolucionária ou até mesmo revolucionária, a depender do andamento do processo, é Israel e seu governo reacionário de Benjamin Netanyahu. E essa opinião minha coincide com diversos analistas, em especial M. K. Bradakumar, do Asia Times. E ganha a República islâmica do Irã.

Mubarak é o principal parceiro de Israel. O Egito foi o primeiro país que assinou a paz em separado com Israel, seguido pela Jordânia. Nenhum outro assinou. Tecnicamente, Israel esta em guerra com a Síria e o Líbano, pois confiscou terras desses países (respectivamente as colinas de Golã e as fazendas chamadas de Shebaa). Entre os dias 27 de dezembro de 2008 e 22 de janeiro de 2009, Israel bombardeou sem pena nem dó a Faixa de Gaza. Matou a sangue frio 1,5 mil palestinos, dos quais dois terços crianças, mulheres e velhos, sob o pretexto de atacar o grupo Hamas, legitimo representante do povo palestino. Que fez Mubarak? Ao invés de abrir a fronteira de Gaza para deixar passar alimentos, remédios, materiais de construção pela cidade egípcia de Rafah, acabou fechando-a de uma vez, forçando milhares de palestinos a construir túneis na região de fronteira, reforçando o contrabando e encarecendo os preços.

Já temos notícias que dezenas de diplomatas israelenses e seus familiares já deixaram, há muito, o Cairo. Impera na chancelaria e em geral no governo israelense, um nervosismo excessivo. Isso foi registrado por diversos analistas. Israel sabe que um novo governo egípcio poderá romper o acordo de paz de 1979 e isso fará com que o estado judeu venha a ter que gastar muito mais em armamentos e despesas militares, pois há 32 anos ele desguarnece a fronteira Sul, com o Egito e concentra esforços com a front Norte do país, exatamente onde estão o Líbano, a Síria e Irã. Ruim para Israel isso.

Não tenho dúvidas que Israel vai ficando a cada dia mais isolado. E o Irã que não é um país árabe (é persa), se fortalece a cada dia. Senão, vejamos os motivos que elenquei:

• Papeis recentemente divulgado pelo WikiLeaks (Palestinian Papers), revelaram acordos e negociações secretas entre Israel e a ANP, do grupo Fatah, que fizeram enfraquecer ainda mais o grupo de Abbas e fortalecer novamente o Hamas, que tem apoio do Irã e da Síria;
• O Hezbolláh acaba de conseguir formar um governo de maioria no Líbano, derrubando o governo pró-EUA e Israel de Saad Hariri; registre-se que tal governo é chamado de Bloco Patriótico e é composto, além do Hezbolláh do sheik Hasan Nasralláh, mais o Movimento Patriótico Livre, do general cristão Michel Aoun, mais o grupo Amal, de orientação xiita, cujo líder é Nabi Berri, presidente do parlamento e pelo Partido Comunista Libanês;
• O Irã tem boa influência no governo do 1º ministro xiita do Iraque, Nur El Maliki;
• Desde os primeiros momentos, o Irã deu seu total apoio ao levante popular no Egito; Israel entrou em profundo mutismo e silêncio; reflete na verdade o seu imenso pavor de que todos os regimes árabes moderados e pró-Ocidente sejam derrubados no que alguns autores vêm chamando de Revolução de Jasmim ou Primavera Árabe;
• O Irã tem profundas ligações com a Fraternidade Muçulmana, que Israel tem pavor que assuma o comando do país (de meu ponto de vista esse agrupamento vai participar do novo governo, mas não defenderá um governo o islâmico; o Egito é fortemente laico);
• Todos os fracassos seguidos de Washington de barrar o programa nucelar iraniano para fins pacíficos – apoiado pelo Brasil inclusive – que agora deixa de ser o foco no OM; Israel perde seu discurso central;
• A questão palestina e seu estado nacional, a paz volta a ser o centro das negociações e Israel não vai ter como sair disso.


Conclusões preliminares


É um jogo ainda em andamento. As cartas estão na mesa e os jogadores se posicionando, articulando. Não se pode prever exatamente os resultados. Mas quero arriscar alguns palpites:

1. Obama perde nesse processo. Seu discurso do Cairo em julho de 2009, estendendo a mão para os muçulmanos provou-se uma farsa, uma hipocrisia. Não deu passo algum para respeitar os muçulmanos e os árabes em geral. Insiste em classificar, quase que à revelia da maioria dos países, os Partidos políticos Hamas e o Hezbolláh como “terroristas”; são movimentos de resistência e de libertação nacional;

2. Qualquer governo, por mais moderado que seja, não terá, jamais, as mesmas relações de subserviência com os norte-americanos como sempre teve Mubarak. O que tanto os Estados Unidos sempre tiveram pavor, poderá mesmo acontecer concretamente, que é a participação com destaque da Irmandade Muçulmana no futuro governo egípcio; isso não dará caráter religioso ao governo;

3. Israel sai profundamente derrotado e isolado. Perdeu seu discurso de que o maior inimigo é o Irã, que este precisaria ser derrotado e bombardeado e seu programa nuclear visa a construção da bomba atômica (fala como se ninguém soubesse que tem pelo menos 200 ogivas);

4. Ganham os palestinos, que devem se fortalecer na sua luta e na busca de seu estado nacional. Eu só lamento ainda a existência da divisão entre o Hamas e o Fatah e outras organizações. Espera-se até meados do ano eleições gerais, ou pelo menos municipais;

5. Um novo Oriente Médio será construído e isso é perfeitamente possível. O modelo neoliberal pode sofrer abalos. Deverá crescer a democracia mais ampla, os partidos terão maiores liberdades, bem como a imprensa. Eleições gerais devem ocorrer em curto prazo no Egito e na Tunísia. O OM nunca mais será o mesmo depois desse imenso tremor político ocorrido; mudanças profundas podem ocorrer inclusive nas monarquias da Arábia Saudita, Jordânia, Kuwait entre outras;

De minha parte, espero, com sinceridade que avancem as massas populares, no rumo de uma verdadeira revolução democrática, popular, patriótica e nacional. Que avancem os partidos comunistas e socialistas e de feições populares, independente da confissão religiosa de seus dirigentes. São todos árabes, sejam muçulmanos ou cristãos e mesmo judeus dos 22 países árabes.

Termino este artigo com uma frase de Helena Cobban, de seu blog, muito ferino contra os EUA: “no caso da política de Obama para o OM, são cegos guiando cego e cegos aconselhando cego no salão oval da Casa Branca”, em uma clara alusão a Bill Daley, Ben Rhodes, Tony Blinken, Denis McDorough, John Brennan e Robert Cardillo, assessores e conselheiros de diversos cargos de Obama, todos, indistintamente, militantes fanáticos pró-Israel e à serviço do lobbyie judaico. Como diz elas, que venham os arabistas de Washington.

PS: esclareço aos leitores que este é um típico artigo de Internet. Ele pode se dar ao luxo de ser longo, mas é datado, ou seja, vale para este momento histórico, em que a terra treme, no sentido político. De um dia para outro, a conjuntura pode ser alterada completamente.


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Sociólogo, Professor, Escritor e Arabista. Membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabe de Lisboa e da International Sociological Association e colunista da Revista Sociologia da Editora Escala.



Fonte: http://grabois.org.br/portal/noticia.php?id_sessao=8&id_noticia=4856

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A PAZ E O DIREITO DE RETORNO DOS REFUGIADOS PALESTINOS


La sempiterna cuestión de los refugiados palestinos

16-12-2010

The Guardian

Traducido del inglés para Rebelión por Beatriz Morales Bastos

Antes de su asesinato en 1948 Lord Folke Bernadotte, el primer mediador de la ONU en el conflicto israelo-árabe, afirmó: “Sería una ofensa contra los principios de la justicia más elemental si se negara el derecho a retornar a sus casas a estas inocentes víctimas [palestinas] mientras que los inmigrantes judíos fluyen a Palestina”. Lord Bernadotte pagó con su vida su franqueza ya que lo asesinaron siguiendo órdenes de Yitzhak Shamir, el hombre que más tarde se convertiría en primer ministro de Israel.



Menos de tres meses después de su muerte, mientras la guerra de 1948 se acercaba a su fin y las fuerzas israelíes habían desplazado a casi tres cuartas partes de toda la población [palestina] originaria, la ONU aprobó la Resolución 194 de la Asamblea General que exigía el retorno de los refugiados palestinos a sus hogares y que se les concedieran indemnizaciones por las pérdidas que habían padecido.

El sábado [11 de diciembre] habrán pasado 62 años sin que se implemente esta resolución histórica a pesar de que desde entonces ha contado con el apoyo de la ONU con un consenso casi universal. De hecho, la propia admisión de Israel como miembro de las Naciones Unidas estaba condicionada a que acatara los principios de la Resolución 194 de la Asamblea General, a lo que empezó a hacer caso omiso desde el mismo momento en que fue admitido como miembro de la ONU.

Contrariamente a lo que las figuras políticas israelíes quisieran que creyera el mundo, el problema de los refugiados palestinos no es una cuestión académica cuya solución se ha vuelto un tanto discutible con el paso del tiempo y debido a la creación de “hechos consumados” por parte de Israel. El desplazamiento de palestinos continúa hasta el día de hoy por medio de la revocación de los permisos de residencia, la confiscación de tierras, la demolición de casas y los desahucios. Al mismo tiempo, Israel ha prohibido a los palestinos desplazados entre 1947 y 1949, y otra vez en 1967 volver a sus casas o recibir indemnizaciones por la pérdida de sus propiedades, lo que ha convertido a los refugiados palestinos en la comunidad de refugiados más antigua y grande del mundo en la actualidad.

Está fuera de discusión que Israel es responsable de la creación de los refugiados. Aunque el Estado siga pidiendo que se olvide lo que hizo, los historiadores israelíes han desenmascarado el mito sionista tradicional y demostrado que antes de 1948 los dirigentes sionistas elaboraron planes para desplazar a la poblacion originaria palestina con el fin de crear un Estado con mayoría judía. Dicho Estado habría sido imposible sin la expulsión masiva de palestinos dado que estos constituían una vasta mayoría en cada distrito de la Palestina histórica antes de 1948 y también poseían el 90% de la tierra.

Aun aceptando el relato israelí de que los refugiados se fueron voluntariamente (relato que para la inmensa mayoría ha demostrado ser falso), no cabe la menor duda de que cuando los refugiados trataron de volver de acuerdo con el derecho legal que tenía a hacerlo se lo impidió una legislación israelí recién creada y fueron declarados infiltrados en sus propias propiedades.

Este periodo de desposesión, conocido por los palestinos como la Nakba o “la catástrofe”, es la experiencia fundamental palestina y fuente de nuestra identidad colectiva. De hecho, el actual presidente palestino, Mahmoud Abbas, también es un refugiado palestino desplazado de la ciudad de Safed durante la guerra de 1948 cuando sólo tenía 13 años de edad.

Hoy existen más de siete millones de refugiados palestinos reaprtidos por todo el mundo, el 70% de toda la población palestina. Si se ignoran sus legítimos derechos legales consagrados en el derecho internacional, los comprensibles motivos de sentirse agraviados por el prolongado desplazamiento y sus aspiraciones a volver a su patria sin lugar a dudas harían que cualquier acuerdo de paz firmado con Israel fuera completamente insostenible.

De acuerdo con los pasados acuerdos israelo-árabes basados en resoluciones de la ONU (el más significativo de los cuales es los Acuerdos israelo-egipcios de Camp David basados en la fórmula de la Resolución 242 de la ONU de tierra por paz) la Resolución 194 debe proporcionar la base para una resolución de la cuestión de los refugiados .

El remedio del retorno y restitución tiene un fuerte precedente internacional, por ejemplo, en el contexto de los Acuerdos de Dayton, a los que se llegó bajo los auspicios de Estados Unidos, se consideró que el retorno de los refugiados a sus hogares y la restitución de sus propiedades era un derecho “no negociable” que era fundamental para elaborar una solución duradera. Dirigentes estadounidenses, como la entonces secretaria de Estado Madeleine Albright, pidieron abiertamente a los refugiados bosnios musulmanes que retornaran en masa a sus antiguos lugares de residencia.

Tantio en Bosnia como en Palestina se ha considerado que el retorno de los refugiados es absolutamente necesario para la estabilidad de la paz. Se considera que cualquier acuerdo que no respete los derechos de los refugiados conlleva el germen de su inevitable fracaso.

Cuando una vez más se reinicien las negociaciones el mundo no debe abandonar a los refugiados palestinos ni tratar de coaccionar a sus representates para que lo hagan.

El reconocimiento por parte de Israel de los derechos de los refugiados palestinos y el hecho de que acepten proporcionar reparación y una opción significativa a los refugiados en el ejercicio de estos derechos no cambiará la realidad de Oriente Próximo de la noche a la mañana ni provocará a Israel una crisis existencial. Lo que sin duda hará es señalar el inicio de una nueva realidad que nuncá más estará arraigada en la represión, la negación de los derechos y la discriminación. En otras palabras, llevará a una paz duradera, el tipo de paz que concibió Lord Bernadotte y que deseó tanto para los palestinos como para los israelíes.

Fuente: http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2010/dec/10/israel-palestine-refugee-rights

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The returning issue of Palestine's refugees

It's 62 years since the UN passed a resolution on the rights of Palestinian refugees – rights Israel


guardian.co.uk,














Palestinian president, Mahmoud Abbas, is a refugee displaced from the city of Safed during the 1948 war. Photograph: Khaled El Fiqi/EPA


Before his murder in 1948, Lord Folke Bernadotte, the first UN mediator to the Arab-Israeli conflict, stated: "It would be an offence against the principles of elemental justice if these innocent [Palestinian] victims of the conflict were denied the right to return to their homes, while Jewish immigrants flow into Palestine." Lord Bernadotte paid for his candour with his life as Jewish militants assassinated him under the direction of Yitzhak Shamir, the man who would later become prime minister of Israel.

Less than three months after his death, as the war of 1948 ground to a close, and nearly three-quarters of the entire indigenous Palestinian population had been displaced by Israeli forces, the UN passed general assembly resolution 194, calling for the return of Palestinian refugees to their homes and to be awarded compensation for their losses.

On Saturday, 62 years will have passed without this historic resolution being implemented despite being upheld by the UN with nearly universal consensus ever since. In fact, Israel's own admission as a member to the United Nations was contingent on its adherence to the principles of UNGA 194, something it proceeded to disregard once membership was granted.

Contrary to what Israeli political figures would like the world to believe, the issue of Palestinian refugees is not an academic matter, the solution of which is somehow rendered moot by the passage of time and by the creation of Israeli "facts on the ground." Palestinian displacement continues to this day through the revocation of residency cards, land confiscation, home demolitions and evictions. At the same time, Israel has barred Palestinians displaced between 1947 and 1949, and again in 1967, from returning to their homes or receiving restitution for their lost property, making Palestinian refugees the oldest and largest refugee community in the world today.

The fact that Israel bears responsibility for the creation of the refugees is beyond argument. Even if the state still claims amnesia for its deeds, Israeli historians have debunked the traditional Zionist mythology and shown how Zionist leaders prior to 1948 formulated plans to displace the indigenous Palestinian population in order to create a Jewish majority state. Such a state would have been impossible without the mass expulsion of Palestinians, given that Palestinians constituted a majority in every district of historic Palestine prior to 1948 and also owned over 90% of the land.

Even if we accept the Israeli narrative that refugees left voluntarily – which has been proven false for the vast majority – there is no doubt about the fact that when refugees attempted to return according to their legal right, they were blocked by newly drafted Israeli legislation and declared infiltrators on their own property.

This period of dispossession, known to Palestinians as al-Nakba or "the catastrophe", is the seminal Palestinian experience and source of our collective identity. In fact, the current Palestinian president, Mahmoud Abbas, is himself a refugee displaced from the city of Safed during the 1948 war when he was only 13-years-old.

Today, Palestinian refugees constitute more than 7 million people worldwide – 70% of the entire Palestinian population. Disregarding their legitimate legal rights enshrined in international law, their understandable grievances accrued over prolonged displacement, and their aspirations to return to their homeland, would certainly make any peace deal signed with Israel completely untenable.

In accordance with past Israeli-Arab agreements based on UN resolutions – most significantly the Egypt-Israeli Camp David Accords based on UN resolution 242's formula of land-for-peace – resolution 194 must provide the basis for a settlement to the refugee issue.

Return and restitution as the remedy of choice has a strong international precedent. For example, in the context of the Dayton Accords, concluded under the auspices of the United States, the return of Bosnian refugees to their homes and restitution of their property was considered a "non-negotiable" right that was critical to crafting a durable solution. American leaders such as Madeleine Albright, then the secretary of state, openly called on Bosnian Muslim refugees to return en masse to their former places of residence.

In Bosnia and in Palestine, the return of refugees has been considered absolutely necessary for the stability of peace. Any deal that does not respect the rights of refugees has been viewed as bearing the seed of its inevitable failure.
When negotiations resume once again, the world must not abandon the refugees of Palestine, nor attempt to coerce their representatives to do so either.

Israel's recognition of Palestinian refugee rights and its agreement to provide reparation and meaningful refugee choice in the exercise of these rights will not change the reality in the Middle East overnight, nor will it lead to an existential crisis for Israel. What it will certainly do is mark the beginning of a new reality that will no longer be rooted in repression, denial of rights, and discrimination. In other words, it will lead to a lasting peace – the kind of peace envisaged by Lord Bernadotte and hoped for by Palestinians and Israelis alike.

http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2010/dec/10/israel-palestine-refugee-rights



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