domingo, 30 de outubro de 2011

A BATALHA DA PALESTINA NA ONU


Por Emir Mourad*


Quando Yasser Arafat, em seu famoso discurso na ONU, em 1974, disse: “trago em uma das mãos o fuzil de um combatente e na outra o ramo de oliveira, não deixem o ramo de oliveira cair de minhas mãos” e repetiu três vezes para que não deixem o símbolo da paz, o ramo de oliveira, cair de suas mãos. O então presidente da OLP – Organização para a Libertação da Palestina, proclamada pela ONU como única e legítima representante do povo palestino, foi ovacionado de pé pelos países membros daquela Assembléia Geral.

Essa frase do líder palestino sintetizava a estratégia dos palestinos em sua luta de libertação nacional: a luta armada não era um fim em si mesmo, é um instrumento de resistência contra a ocupação estrangeira de sua pátria natal, a Palestina. O objetivo não era a guerra, mas a libertação de sua pátria, o estabelecimento do Estado da Palestina independente, com Capital Jerusalém e a solução do direito ao retorno dos refugiados palestinos (hoje somam cerca de 5 milhões) à sua terra palestina e seus lares. O objetivo final era consolidar a paz entre Israel e a Palestina.

Passados 37 anos, em setembro último, o sucessor de Arafat, Mahmud Abbas, faz um discurso também histórico na Assembléia Geral da ONU. Foi interrompido várias vezes por aplausos demorados, ovacionado tal qual Arafat.

Na prática, a mensagem dos palestinos de hoje não difere substancialmente da mensagem de ontem. Mudou o método, não o objetivo. No lugar da resistência armada, a resistência das pedras, das marchas, das manifestações pacificas, das greves de fome, dos gritos e das canções, da pena e da diplomacia, da palavra que não cala.

Nesse intervalo de quase 40 anos entre esses dois discursos, uma coisa não mudou: a posição dos Estados Unidos e de Israel, aliados de sempre, unha e carne. Um casamento perverso que coloca em perigo a própria paz mundial, gerando guerras, percas de milhares de vidas, recursos matérias e humanos a serviço de ocupar a palestina para matar, roubar e rezar para um Deus que não é o Deus dos humanos!  Sem dúvida que petróleo e vigilância dos interesses ocidentais nessa região do planeta tem muito a ver com a não solução da questão palestina.

Obama é totalmente refém do discurso e ação do governo de Israel e de seu primeiro ministro Netanyahu. Humilhante para Obama, mas é o preço dos milhões de dólares do lobby judaico nos EUA investidos na campanha do primeiro negro presidente dos norte americanos e que carrega uma origem islâmica e árabe de família e no próprio nome: Barack Hussein Obama. Qualquer presidente, seja democrata e republicano, acabou compactuando com as regras e compromissos da cartilha israelense.

Na ONU os palestinos pedem que o Estado da Palestina seja admitido como membro de pleno direito. Hoje são mais de 130 países que já reconhecem esse Estado e tem embaixadas palestinas em seus países. Israel teve seu reconhecimento pela ONU e agora não admite que os palestinos tenham. Para ser encaminhado à votação na Assembléia Geral da ONU, o pedido dos palestinos precisa ser aprovado pelo Conselho de Segurança, ou seja, precisa de 9 votos dos 15 e que nenhum dos países com assento permanente no Conselho vete a proposta. Como Obama já prometeu vetar, o pedido pode ser encaminhado à Assembléia Geral para que o Estado da Palestina seja admitido como membro Observador e não mais como membro pleno. Israel rejeita as duas propostas, tal qual Obama, não querem ver um Estado palestino fazendo interpelações judiciais junto ao Tribuna Penal Internacional contra as ações israelenses de guerra e seus crimes cometidos nos territórios palestinos ocupados. Seria um estado palestino negociando com um estado israelense, de igual para igual no terreno jurídico, o que muito fortaleceria a posição dos palestinos. Seria Israel ocupando territórios de outro estado, e ai o mesmo argumento usado quando Saddam Hussein invadiu o Kuwait em 1990 poderia ser usado contra Israel: qualquer pais membro da ONU ao ter suas fronteiras invadidas sofrerá asa ações penais, econômicas e militares cabíveis.

A segunda fase da batalha palestina na ONU se aproxima, dia 11 de novembro o Conselho de Segurança decidirá e Obama poderá ser derrotado pela segunda vez . Ironia da história, mas foi Mahmud Abbas, Presidente da OLP e da Autoridade Nacional Palestina, cercado pelas máquina de guerra, politica e econômica de Israel, aliado da maior potencia mundial, impôs ao chefe do império, Obama, uma derrota politica quando discursou na Assembléia Geral da ONU. O mundo apoiou o discurso e as reinvindicações dos palestinos e Obama se prestou a ser um mero papagaio da posição israelense, obrigado a repetir o que o mundo inteiro não esperava: a guerra continua contra os palestinos!

O Presidente americano sabe que a sua reeleição depende do lobby judeu, mas caso mude de posição e apoie os palestinos, o que realmente não se espera, seria surpreendido com uma avalanche de votos da comunidade árabe dos EUA como nunca tinha visto antes. Quem disse que os árabes não podem formar um lobby também?

Emir Mourad, Engenheiro e Diretor da FEPAL – Federação Árabe Palestina do Brasil



domingo, 16 de outubro de 2011

AS RAZÕES DO MOVIMENTO "OCCUPY AMERICA"



Não percebem os políticos o processo revolucionário em marcha que, de uma forma ou de outra, atingirá todos os países do mundo. Ao globalizar-se, pela imposição do sistema financeiro, a economia, globalizou-se a reação dos povos ao sistema totalitário e criminoso.


 Por Mauro Santayana

O movimento de protesto nos Estados Unidos teve ontem um dia diferente em Nova Iorque: piquetes de centenas de pessoas se manifestaram às portas de cinco dos maiores milionários de Manhattan, começando pela casa de Rupert Murdoch. Outras residências visitadas foram as dos banqueiros John Paulson, Jamie Dimon, David Koch, e Howard Millstein – todos eles envolvidos nos grandes escândalos de Wall Street, e socorridos por Bush. Os lemas foram os mesmos: que tratassem de devolver o que haviam retirado da economia popular.

A polícia limitou-se a conter, com barreiras, os manifestantes. Mas a mesma coisa não ocorreu em Boston. A polícia municipal atuou com extrema violência durante a madrugada de ontem, atacando, com porretes, dezenas de manifestantes e ferindo dois veteranos de guerra, um deles, de 74 anos, ex-combatente no Vietnã. O “Occupy Together” atingiu mais de 1.200 cidades norte-americanas, em preparação para as grandes concentrações nacionais no próximo sábado, dia 15.

Conforme o jornalista americano David Graeber, em incisivo artigo publicado pelo The Guardian, os jovens, e também homens maduros, vão às ruas nos Estados Unidos em busca de empregos, de boa educação, de paz, é certo, mas querem muito mais do que isso. Eles contestam um sistema que deixou de servir aos homens, para servir apenas aos banqueiros e a um capitalismo anacrônico. “Para que serve o capitalismo?”, é uma de suas perguntas. Eles contestam um sistema baseado no consumo supérfluo de uns fundado na negação das necessidades básicas de 99% da população de seu país. Descobriram que o seu futuro, os seus sonhos, o seu destino e a sua vida foram roubados pelo sistema que deixou de ser democrático.

Os neoliberais no mundo inteiro fazem de conta que esses protestos nada significam, e muitos deles continuam sem perceber o que está ocorrendo. Tem sido sempre assim na História. Na noite de 4 de agosto de 1789, quando, a Assembléia revolucionária da França aboliu os privilégios feudais da nobreza, Luis 16, que seria guilhotinado menos de três anos depois, escreveu em seu diário: hoje, nada de novo. Como bem registrou Paul Krugman, em seu artigo no New York Times, os manifestantes não são extremistas: os verdadeiros extremistas são os oligarcas, que não querem que se conheçam as fontes de sua riqueza.

Não percebem os políticos o processo revolucionário em marcha que, de uma forma ou de outra, atingirá todos os países do mundo. Ao globalizar-se, pela imposição do sistema financeiro, a economia, globalizou-se a reação dos povos ao sistema totalitário e criminoso. Seria a hora de um entendimento entre os estadistas do mundo, a fim de chamar os especuladores à razão e colocar o Estado ao serviço da justiça, retornando-o à sua natureza original. Na Europa e nos Estados Unidos o que se vê é o Estado socorrendo os banqueiros fraudulentos, e os ricos insistindo na receita neoliberal clássica, de ajustes fiscais, de redução dos serviços sociais, do arrocho salarial e da demissão sumária de imensos contingentes de trabalhadores, a fim de garantir o lucro dos especuladores.

Nos anos oitenta, os paises emergentes de hoje, entre eles o Brasil, estavam atolados em uma dívida internacional marota, gerada pela necessidade de rolar os bilhões de eurodólares, e não dispunham de recursos. Mme Thatcher disse que o Brasil teria que vender as suas terras e florestas, a fim de pagar o que devia. Hoje, trinta anos depois, a Grécia está vendendo tudo o que pode, até mesmo monumentos históricos, enquanto parcelas de seu povo começam a passar fome.

Quando os africanos morrem de fome e de epidemias, como voltaram a morrer agora, não há problema. Para os brancos, europeus ou americanos, é alguma coisa que não lhes diz respeito. A África não é outro continente: é outro mundo. Mas, neste momento, são brancos, de cabelos louros e olhos azuis, como os manifestantes de Boston – jóia da velha aristocracia da Nova Inglaterra – que vão às ruas e são espancados pela polícia. A revolução, como os próprios manifestantes denominam seu movimento pacífico, está em marcha.

Há é certo, algumas providências na Europa, como a estatização do banco belga Dexie, mas se trata de um paliativo, quando Trichet, o presidente do Banco Central Europeu recomenda injetar mais dinheiro no sistema financeiro privado. Mais astuto, o governo da China reforçou a presença estatal no sistema financeiro, aumentando a sua participação nos bancos de que é acionista majoritário.

E o mundo se move também na política. Abbas - o presidente da Autoridade Nacional Palestina, que luta pelo reconhecimento pela ONU de seu Estado nacional - em hábil iniciativa, esteve anteontem e ontem em Bogotá. Ele fez a viagem a Colômbia, sabendo que dificilmente o apoiariam: o país hospeda bases militares americanas e, ontem mesmo, um comitê do Senado, em Washington, aprovou o Tratado de Livre Comércio entre os dois países. Assim, o presidente Juan Manuel Santos limitou-se a declarações protocolares de apoio à paz no Oriente Médio, o que não impedirá a caminhada da História.

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