segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Atritos entre Obama e Netanyahu se agravam



Netanyahu comte crimes de guerra contra o povo palestino

Por Luiz Eça- Olhar o Mundo 
Os desentendimentos entre os dois líderes datam do início do primeiro mandato do presidente americano.
Empolgado com as mudanças  prometidas em sua campanha eleitoral, Obama quis reunir palestinos e israelenses para negociarem a paz.
Como os palestinos exigiam que previamente Netanyahu parasse de expandir os assentamentos judaicos, Obama tentou convencer o israelense disso.
Argumentou, pediu, insistiu… mas Netanyahu ficou firme na negativa..
Obama teve de desistir.
Anos depois, veio com nova iniciativa: propôs negociações de paz na base dos limites de 1967, como, aliás,  determinara a ONU.
Inaceitável para Israel.
Isso significaria renunciar aos assentamentos (ou a parte deles), que se espalhavam pela Cisjordânia.
Sem perder tempo, Netanyahu voou para os EUA, onde passou um sabão no presidente americano em plena Casa Branca e foi recebido apoteoticamente pelo Congresso em peso.
Assustado, Obama  desculpou-se na sede da AIPAC, o maior lobby pró-Israel, alegando que fora mal entendido, lógico a realidade dos assentamentos tinha de ser respeitada, os limites de 1967 eram apenas uma base inicial sujeita a alterações…
Depois de duas derrotas contra Bibi, Obama finalmente parece estar ganhando a terceira disputa.
Apesar das furiosas e repetidas apóstrofes condenatórias do premier israelense, ele continua procurando chegar a um acordo com o Irã na questão nuclear.
Agora delineia-se , digamos, uma nova rusga, entre os dois chefes de Estado.
Durante os ataques a Gaza, os EUA, fiéis a sua tolerância infinita às transgressões israelenses, justificaram os bombardeios: Israel teria o direito de se defender.
Mas as coisas foam longe demais, com o assassínio de crianças, ataques a abrigos da ONU e destruição de escolas.
Obama acabou revelando publicamente sua irritação: o exército de Telaviv  tinha de fazer mais para proteger os civis.
No mês passado, quando Netanyahu foi à ONU para mais um show de catastrofismo (recebido friamente por metade do recinto vazio), ele reuniu-se com Obama.
O presidente dos EUA não estava nada satisfeito.
Tanto é que disse: ”Temos de encontrar um jeito de mudar o status quo de um modo que os cidadãos israelenses fiquem seguros…mas também que não haja a tragédia de crianças palestinas sendo assassinadas.”
Obama e Netanyahu, atritos se agravam
 Netanyahyu não deve ter gostado nada.
Gostou ainda menos quando Obama, alguns dias depois, criticou a aprovação de mais 2.600 assentamentos israelenses na Cisjordânia e Jerusalém Oriental.
Numa declaração pública, Obama condenou o projeto, avisando que ele afastaria Israel “mesmo dos seus mais próximos aliados”. E reafirmando que assentamentos judaicos na Palestina, comprometiam a paz na região.
Não fez nada mais do que acompanhar a ONU que sempre considerou ilegais  tanto os assentamentos, quanto a anexação de Jerusalém Oriental por Israel.
Mas para Netanyahu foi demais.
No domingo, 5 de outubro, em entrevista à rede de TV americana CBS, ele avançou no sinal:  não aceita restrições onde judeus podem viver e  judeus e árabes de Israel tem direito de construir casas onde quiserem.
Ou seja, rebela-se contra a proibição da ONU.
Sem contar que está de brincadeira quando fala que árabes de Israel podem  construir suas casas em qualquer parte.
Não há notícia de algum deles habitando qualquer dos assentamentos judaicos…
No entanto, talvez mais grave, foi o que veio a seguir.
O premier israelense disse estar perplexo,a fala de Obama estaria contra os valores americanos.
E completou: “E não é um bom augúrio para a paz. A idéia de que nós precisamos ter purificação étnica como uma condição para a paz… eu penso ser contra a paz.”
Taxar as considerações de um presidente dos EUA como contra os valores da América é algo um tanto agressivo.
Já a justificação dessa acusação é de uma ironia ridícula.
A expansão dos assentamentos judaicos sobre terras palestinas objetiva assegurar sua permanência em Israel, quando houver um Estado palestino.
Quanto mais assentamentos forem criados, mais terras palestinas  poderão ser anexadas a Israel.  Ficará muito difícil para o futuro Estado palestino recuperar estas áreas porque os assentados, conforme declarações gerais, não aceitariam passar a viver numa Palestina independente.
Além disso, muitos deles vivem em áreas tomadas de palestinos por formas de legitimidade discutível: desapropriações pelo exército, exigências legais absurdas, etc.
Purificação étnica é Israel quem faz, expulsando palestinos da “Área C da Cisjordânia, onde se localizam os assentamentos. De ano para ano a população palestina dessa região diminui sensivelmente.
Diante do desafio de Netanyahu, Obama reagiu à altura,através do porta-voz Josh Earnest: “O fato é que, quando se trata de valores americanos, são os valores americanos que emprestam a Israel inabalável apoio. São os valores americanos que nos levam a lutar e garantir recursos para assegurar a segurança de Israel de modo sensível.”
E acrescentou que os EUA financiaram e construíram o “Domo de Ferro” de Israel, o sistema que impediu  os foguetes do Hamas de atingirem seus alvos.
Acredito que Obama e Netanyahu tem divergências quanto ao Oriente Médio.
O americano bem que gostaria de cumprir suas promessas de imparcialidade e justiça, mas não tem coragem ou poder para enfrentar o Congresso e os lobbies pró-Israel.
No entanto, bem que procura tentar resolver os problemas da Palestina e do Irã nuclear, mesmo indo contra as posições de Netanyahu,  embora jamais vá até o fim.
Há muito Netanyahu sacou as idéias opostas de Obama, mas se mantém firme em suas posições, contando sempre com os parlamentares e os poderosos financiadores e grupos do Israel First.
Ultimamente parece que Obama  sente cada vez mais sua responsabilidade de  leader of the world, que deve defender direitos humanos e leis internacionais.
Sem contar que, também a população dos EUA vem aos poucos caminhando nessa direção, o que implica num choque, ainda incipiente, com Israel.
Assentamentos,  acordo de paz com o Irã e independência da Palestina obtêm números cada vez mais altos nas pesquisas americanas.
Especialmente na população jovem, até 30 anos, não existe mais tolerância total com ações israelenses condenadas pelos organismos internacionais.
Nesse último desentendimento, Obama , mesmo lembrando a amizade sem limites com Israel, não deixou de lembrar o que Israel deve a ele.
Num segundo momento, poderá cobrar esta pesada dívida, pressionando Netanyahu  a ser razoável, aceitando um acordo  que garantisse soberania e viabilidade ao Estado palestino.
Recursos ele teria: sem a mão amiga de Tio Sam, Israel ficaria numa situação muito difícil.
Provavelmente, o premier israelense não seria nada fácil de dobrar. Ele conta com uma vitória provável do muito mais aliado Partido Republicano nas eleições da duas casas do Congresso, em 6 de novembro.
Obama também sabe disso.
Não vai arriscar piorar a situação, perdendo votos judaico-americanos, que em maioria costumam ir para os democratas.
A dedução é que Netanyahu tem o presidente americano na mão.
Com o risco de estar sendo sonhador, eu gostaria de dizer que isso não é absolutamente certo.
Lembro que Eisenhower e Roosevelt tomaram importantes  decisões conflitantes com congressos hostis.
E que, no segundo mandato, presidentes costumam realizar seus projetos para ficarem na história de um modo louvável.
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Especial sobre as  Relações Brasil – Palestina, leia aqui:



terça-feira, 7 de outubro de 2014

A Palestina ataca



Luiz Eça - Opera Mundi

Depois de 21 anos de tentativas frustradas de conseguir sua independência em negociações diretas com  Israel, como o Ocidente queria, a Palestina resolveu falar sério: lançou uma ofensiva para forçar Telaviv  a ceder.
  
Em discurso na ONU, Abbas, presidente do governo unificado Hamas-Fatah,  fez acusações que a comunidade internacional sabe verdadeiras, mas não tem tido coragem de lhes dar a conseqüência devida.

Há 47 anos, a ONU, através da resolução 242, determinou “a impossibilidade da aquisição de territórios pela guerra”, exatamente o que Israel fez na Palestina.

Nos anos seguintes, um sem número de vezes ela condenou ilegalidades e violações dos direitos humanos praticadas pelos israelenses.

E tudo não passou de words, words, words.

Agora,  Abbas pretende que as palavras se consubstanciem em fatos.

Ele solicitou, em tom de exigência, que Israel cumprisse a lei internacional e as decisões da ONU, permitindo que os palestinos tivessem um Estado.

Abbas mostrou o tipo de “estado palestino” que Israel pretende que seja criado.

Na melhor das hipóteses, uma terra fragmentada em guetos, sem soberania sobre seu espaço aéreo, água e recursos naturais, submetida a colonos racistas e exércitos de ocupação.

“ Na pior das hipóteses, a mais abominável forma de apartheid.”

Com uma visão tão radicalmente oposta à palestina, as conversações bilaterais jamais poderiam dar certo.

Nas últimas negociações, os israelenses  seguiram com seus planos de reduzir a Palestina ao mínimo, através da contínua expansão dos assentamentos.

O próprio John Kerry, secretário de Estado dos EUA, admitiu que  foram os israelenses quem mais solaparam as chances  de acordo (embora dissesse que também os palestinos tiveram suas culpas).

Diante do fracasso dessas negociações, completando 21 anos de tentativas  inócuas para se obter paz pelas negociações diretas,  os palestinos resolveram dar  “um  basta.”

Abbas  foi categórico: “é impossível, repito, é impossível, retornar ao turbulento ciclo de negociações que falharam ao não abordar o essencial…”

E ele explicitou o que seria essencial :

- terminar com a ocupação militar israelense ;

– estabelecer a independência do Estado da Palestina, nos territórios palestinos tomados por Israel em 1967, com Jerusalém Oriental como capital ;

- definir uma solução justa para o problema dos palestinos expulsos por Israel nas guerras ;

- fixar uma data determinada para  que esses objetivos fossem implementados.

O presidente palestino considerou que, sem resolver essas questões, nenhuma negociação teria nem valor, nem significado.

Na justificação de suas posições, ele usou palavras duras para condenar as açores israelenses como “genocídio” e ‘apartheid.”

Os EUA, como sempre, tomaram as dores de Israel.

Ignoraram o principal – o conteúdo da proposta, para se apegarem ao acessório – os termos mais duros usados por Abbas.

“Estes pronunciamentos provocadores são contraproducentes, sabotam os esforços para criar uma atmosfera positiva e criar confiança entre as partes”.

Assim se manifestou Jen Psaki, porta voz do departamento de Estado e do mundo de fantasia que ela parece habitar – onde o massacre dos cidadãos de Gaza seria considerado “esforços para criar uma atmosfera positiva”.

Mas os palestinos não se tocaram: rapidamente formularam uma proposta de resolução do Conselho de Segurança da ONU.

Ela contém todas as proposições palestinas citadas acima, mais a necessidade de garantir a paz e a segurança nos dois países, além de pedir esforços intensificados  para se chegar a uma paz justa e definir o prazo de até 16 de novembro de 2016  para a declaração de independência da Palestina, como Estado soberano e viável.

A reação de Israel foi a esperada.

Netanyahu foi veementemente furioso.

E Ron Prosor, seu embaixador na ONU, declarou:  ‘Mais uma vez os palestinos estão atirando em todas as direções, esquecendo o alvo real.”

Bem, o que ele chama de “alvo real”, as negociações diretas com Israel, os líderes da Autoridade Palestina miraram durante 21 anos, a partir dos acordos de Oslo.

Como se sabe, todos os tiros se perderam no espaço.

Samantha Power, embaixadora americana na ONU, limitou-se a reafirmar que, para seu país, a única saída são as negociações diretas.

Talvez, ela ache que, para esta saída dar resultado,  duas dezenas de anos de tentativas seria pouco.

A paciência dos palestinos parece ter acabado.

Muitos deles (Abbas principalmente) confiaram em Obama, no celebrado discurso do Cairo,  em 2009, quando ele começava seu primeiro mandato.

“…é inegável que o povo palestino, islamitas e cristãos, sofreu na busca de uma pátria. Por mais de 60 anos eles sofreram a dor dos deslocamentos…Eles suportaram humilhações diárias, grandes e pequenas, da ocupação. Portanto, vou deixar bem claro: a situação para o povo palestino é intolerável. A América não virará as costas às legítimas aspirações palestinas por dignidade, oportunidades e  um Estado todo seu.”

Na verdade, a América virou as costas para os palestinos muitas vezes.

Até agora, Obama não cumpriu suas promessas.

Alega-se que ele não tem força suficiente para enfrentar o Senado e a Câmara dos Representantes, maciçamente pró-Israel.

O presidente Eisenhower teve.

Em 1956, quando os israelenses, aliados à França e à Grã-Bretanha, invadiram e ocuparam o Estreito de Gaza e a Península do Sinai (territórios do Egito), exigiu sua retirada, ameaçando com sanções.

Quando Israel quis negociar, ele replicou: “Pode uma nação que ataca e ocupa territórios estrangeiros, mesmo diante da desaprovação da ONU, ter direito a impor condições para se retirar?”

Na ocasião, os senadores Lyndon Johnson, líder da maioria democrata, e Willian Knowland, líder da minoria republicana, se opuseram ao presidente.

Mas Eisenhower ficou firme: “A América tem uma voz ou não tem nenhuma e essa voz é a voz do presidente – quer todos concordem com ela ou não.”

E foi em frente.

Israel chiou, mas acabou se retirando.

Certamente, Eisenhower tinha menos recursos para pressionar Telaviv a se comportar de modo civilizado do que Obama tem agora.

Os EUA não beneficiavam Israel com 3,1 bilhões anuais, nem o protegiam,  vetando as inúmeras condenações da ONU pelas violações das leis internacionais e dos direitos humanos dos palestinos.

Claro, Washington não poderia de uma hora para outra passar de apoio incondicional a Israel para uma postura imparcial, que o poria muitas vezes contra Telaviv.

Seria necessário que Obama fosse mudando aos pouos.

Obama, no início de seu primeiro mandato, até que deu sinais de que iria tocar esse processo. Mas, salvo uma ou outra posição afirmativa, acabou ficando nisso.

Tem ele agora mais uma chance de provar que o Obama do discurso do Cairo ainda está vivo.

É verdade que o momento não é muito oportuno.

As eleições parlamentares de “meio-termo”  serão no mês que vem.

Não vetar a proposta palestina no Conselho de Segurança da ONU poderá alienar preciosos votos judaico-americanos, particularmente nos estados de Nova Iorque e Florida. E talvez mais preciosos dólares de financiadores e apoios de organizações e jornais 100% pró Telaviv.

De outro lado, parte dos judeus americanos não se emociona mais com os apelos apocalípticos de Netanyahu e até entende que a Palestina queira buscar a paz de uma forma alternativa.

Os candidatos do Partido Democrata, de Obama, terão muita chance de serem votados por eles.

E também pelos eleitores, digamos, de esquerda, que pretendiam ficar de fora do pleito,  revoltados com a política externa do país.

É necessário considerar que o lado palestino desta vez vem consideravelmente fortalecido para a arena internacional.

Abbas não é apenas o presidente de uma Autoridade Palestina, com autoridade sobre apenas uma parte da sua comunidade.

Agora, presidindo o governo conjunto Hamas-Fatah, ele  representa todo o povo palestino.

Tem o apoio já acertado de todos os países do Oriente Médio, inclusive da Arábia Saudita, aliada próxima  dos EUA.

De acordo com pesquisas, a população de quase todos os países  do mundo condena as violências israelenses e defende a independência da Palestina.

Mesmo os governos europeus estão cansados das inúmeras transgressões israelenses, a própria comunidade e muitos países individualmente já aplicam sanções contra Israel, por causa dos assentamentos.

Mais de 150 países já se pronunciaram pelo fim da ocupação israelense e pela independência da Palestina.

Sendo os EUA o inconteste líder do planeta, não pode se dar ao luxo de ficar isolado.

Os políticos do Partido Democrata podem estar mais interessados nas eleições distritais de Kokomo, Indiana, ou de Chattanooga, Tennessee, do que nas decisões vitais da ONU. O presidente americano tem de ter preocupações mais amplas.

Do tamanho deste mundo, enquanto não colonizarmos a lua.

Embora se espere que, desta vez, a proposta palestina vença no Conselho de Segurança da ONU, com os 9 votos mínimos exigidos, as apostas são que Obama continuará cedendo às  injunções domésticas.

Mas as coisas não devem ficar por aí.

Caso dê errado (e raros duvidam que seja diferente), os palestinos não devem deixar passar batido.

Eles ainda tem uma arma de efeitos possivelmente devastadores: levar Israel às barras dos réus do Tribunal Criminal Internacional em Haia.

É tudo que horroriza os estrategistas israelenses.

Eles recorreram a seus fiéis aliados da Casa Branca.

Para brecar Abbas, o presidente Obama já o ameaçou com cortes impiedosos: não mais ajuda financeira, não mais declarações favoráveis, não mais compreensão.

Acredito que o apelo palestino à ONU para obter independência nos seus termos, com data definida, é o plano A.

Caso haja veto americano, ficaria demonstrado que os palestinos tentaram resolver seus problemas com Israel numa boa.

Não conseguindo, só lhes restará por em prática o Plano B: promover o julgamento de Israel no Tribunal Criminal Internacional.

Lá, os EUA não tem  poder de veto.

Provas existem – e abundantes – para a condenação dos líderes de Israel.


Terão os juízes coragem bastante para vencer as inevitáveis pressões?

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