terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Exposição em São Paulo retrata trajetória de refugiados palestinos

Centro Cultural São Paulo traz fotografias e filmagens do arquivo das Nações Unidas; mostra percorre 70 anos da migração forçada e explora transformação dos personagens

por Camila Maciel, da Agência Brasil


Exposição fotográfica retrata situação dos refugiados palestinos
Crianças palestinas procuram por seus objetos, em casas destruídas por ataques israelenses na Faixa de Gaza, em agosto de 2014 - Foto: SHAREEF SARHAN/ UN (07/08/2014)


São Paulo – A vida dos refugiados palestinos estará retratada na exposição Uma Longa Jornada, em cartaz na capital paulista a partir do próximo sábado (24), na Praça da Biblioteca do Centro Cultural São Paulo. Com fotografias e filmagens do arquivo da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (Unrwa, na sigla em inglês), a mostra apresenta registros de pelo menos 70 anos dessa migração forçada. Ainda hoje, o conflito entre palestinos e israelenses na Faixa de Gaza provoca mortes e deslocamentos. A mostra é gratuita e fica aberta até o dia 15 de março.

Quarenta fotos e cinco curtas-metragens foram selecionados para a exposição no Brasil. O projeto já esteve em cidade como Roma, Jerusalém, Nova York e Marrocos. “O tema da exposição é ajuda humanitária e o trabalho da Unrwa. Não só os programas de urgência humanitária, mas os programas de educação e saúde”, explicou Theresa Jatobá, produtora da exposição. No dia da inauguração da mostra, a Organização das Nações Unidas (ONU) fará, às 16h, o debate "Refugiados da Palestina: ajuda humanitária e o papel do Brasil”.

O projeto arquitetônico da exposição no Brasil foi desenvolvido pelo Atelier Marko Brajovic, que apoia o evento. “Tudo foi pensado para que o espectador passe por uma realidade de imersão na vida dos refugiados da Palestina. É uma instalação que foge do padrão linear mais comum de exposição”, destacou Theresa. De acordo com ela, o espaço do centro cultural permitiu que a mostra seja visualizada de cima. “É uma estrutura circular. Ela faz menção a uma flor desabrochando”, antecipou.

A produtora destacou também um dos filmes, feito a partir dos registros de George Nemeh, um dos principais fotógrafos da Unrwa, que trabalhou na agência por cerca de 40 anos. “Ele fotografou pessoas durante 40 anos e visitou as que foram fotografadas no passado. Por exemplo, um bebê, que hoje é um homem. O reencontro dele com essas pessoas é muito interessante”, explicou. Ela acredita que essa conexão entre o passado e a atualidade, por meio do trabalho da agência da ONU, vai permitir que o espectador brasileiro consiga estar mais próximo da realidade do povo árabe.

A Unrwa estima que existam 5 milhões de refugiados palestinos. A agência foi criada em 1949, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, e entrou em operação no ano seguinte. São considerados refugiados da Palestina pela agência internacional aqueles que viviam no território entre junho de 1946 e 15 de maio de 1948, antes que tivesse início o conflito árabe-israelense naquele ano.



Programação

Uma Longa Jornada | 24 de janeiro de 2015 às 15h | Praça da Biblioteca do Centro Cultural São Paulo.

Debate de Inauguração | 24 de janeiro 2015 às 16h | Praça da Biblioteca do Centro Cultural São Paulo.

Duração da Exposição | 24 de jan a 15 de mar | 2015
terça a sexta-feira das 10h às 20h (entrada permitida até às 19h30)
sab, dom e feriados das 10h às 18h (entrada permitida até às 17h30)


sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Ataque contra o jornal satírico Charlie Hebdo: um ataque contra o islã

 Ataque contra o jornal satírico Charlie Hebdo 


Por Mohamad Hadjab

O ataque ocorrido esta quarta-feira 07 de janeiro contra o jornal satírico francês Charlie Hebdo não é só um ataque contra a liberdade de imprensa, e/ou contra o estado democrático de direito que a França encarna, mas, sobretudo um ataque contra os valores sagrados do Islã. Se nenhuma certeza comprova a origem islâmica dos autores desse atentado, ao gritarem "Deus é grande!" em árabe.. o mal foi feito.

Efetivamente, se os assassinos desse horrível atentado se expressaram em árabe por meio da expressão "Ala u akbar" (Deus é grande) enquanto acrescentaram querer vingar o profeta (Mohammed), foi o próprio islã, suas tradições, bem como seus valores que eles sujaram, atraiçoaram e assassinaram. Aqueles que são hoje e serão amanhã os principais reféns dessa barbaridade ocorrida na França são os membros da comunidade muçulmana (segunda maior religião praticada na França) que mais uma vez são injuriados, estigmatizados e acusados de todos os mais que se abaterão sobre a França como isso acontece já há mais de quinze anos. Na final das contas, a islamofobia é uma moeda política.

Os muçulmanos da França, sejam eles franceses ou residentes, devem manifestar sua indignação relembrando os fundamentos islâmicos, que são a paz e a tolerância. Aliás, o termo islã não contem o trilítero "Slm" que também originou a palavra árabe "Salam" que significa paz? Os mesmos muçulmanos devem cada vez mais se organizar na sociedade francesa à qual eles pertencem, defendo seu espaço dentro dela: eu farei minhas as palavras do pesquisador sociólogo argelino Abdelmalek Sayad : "Existir significa existir politicamente". Já chegou a hora desta frase escoar nos corações e mentes dos muçulmanos da França e do mundo inteiro antes de eles serem engolidos pela onda " à la mode" de islamofobia que não cessa de se estender na França e na Europa1 como isso já ocorreu nos anos 30 contra a comunidade judaica. Cada época precisa do seu bode expiatório e o islã foi designado em substituição ao judaísmo, comunismo ou outros!

Um dos principais sucessos literários nas livrarias francesas se chama "le suicide français" (O suicido francês) escrito pelo jornalista e ensaísta islamofóbico Eric Zemmour, que, numa entrevista dada ao jornal italiano "Corriere della Sera2" cogita a eventual deportação dos cinco milhões de muçulmanos vivendo no território francês. O escritor e premiado Michel Houellebeq que declarou que a religião mais babaca era o islã3, acabou de publicar uma obra intitulada "Soumission" (Submissão) que narra a chegada ao poder na França de um partido político muçulmano como se tratasse de uma novela profética exaltando o medo coletivo presente na França quando se trata do islã. Tantos sinais de alerta que mostram o quanto a islamofobia constitui um comércio lucrativo dentro de uma França que se afasta cada vez mais dos seus valores universais e entre eles a liberdade, a democracia, a separação do poder temporal e espiritual e também a liberdade de culto.

O jornal francês satírico 'Charlie Hebdo' - anteriormente libertário e anárquico - se tornou cada vez mais extremista e particularmente virulento contra os muçulmanos sob a nova direção de Philippe Val, acabou de perder bem como o país inteiro, seus melhores caricaturistas, sob as balas de assassinos. Eu não compartilho o humor e os ataques fáceis por meio de caricaturas contra os muçulmanos e sua religião, publicado pelo jornal francês sendo lucrativo, porém, como o fala essa frase geralmente atribuída ao filósofo das luzes Voltaire "Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo". Mas isso não impede de afirmar que a liberdade também possui seus próprios limites.

Este ataque mostra o mal-estar social e econômico presente na sociedade francesa em relação a uma parte da sua população hoje em dia definida como muçulmana, e antigamente como árabe, cuja presença na França demonstra a relação ambígua que essa grande nação europeia mantém, não só com a outra margem do Mediterrâneo (Norte da África e, especialmente, com a sua ex-colônia Argélia), mas com parte da sua história feita de glória, conquista e miséria. As explosões racistas contra os muçulmanos se tornaram um esporte nacional na França, sendo que a maioria dessa comunidade ainda pertence ao Lumpen proletariado francês sem qualquer representação política ou econômica que lhe permite defender-se ou influenciar o debate político local. Se a França deve proceder a um verdadeiro exame de consciência sobre a colocação do árabe e do Islã no imaginário francês desde o século VIII, os muçulmanos devem reagir, lutando pela defesa dos seus direitos, mas também mostrando indignação quando radicais se substituem a eles cometendo o irreparável. Caso contrário, a situação pode piorar alargando o fosso e a incompreensão entre cidadãos levando a nação ao que mais desejam os inimigos da república: a um choque de civilizações.


MOHAMMED HADJAB

Especialista em Relações Internacionais.



1 http://noticias.r7.com/internacional/movimento-pegida-convoca-manifestacao-islamofobica-em-oslo-07012015

2 http://www.francetvinfo.fr/societe/zemmour-envisage-la-deportation-des-musulmans-cazeneuve-condamne_774555.html

3 http://www.huffingtonpost.fr/2015/01/06/michel-houellebecq-islam-soumission-musulman-religion_n_6372084.html

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Bob Fernandes / O atentado na França... e os ódios no Brasil

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