terça-feira, 9 de maio de 2017

Palestina: "Freud anteviu a catástrofe"

Freud, que manteve uma correspondência com Einstein sobre a guerra e as pulsões que levam os homens a matar e exterminar seus semelhantes, nunca defendeu o sionismo.


Leneide Duarte-Plon, de Paris* - Carta Maior


Palestinian loss of land - 1946 to 2005


Pelo que vemos se desenhar no horizonte com a nova aliança Trump-Netanyahu - que no encontro de ontem, em Washington, prepararam o mundo para o fim do sonho de criação do Estado Palestino - a caixa de Pandora está prestes a ser aberta. Em Israel, uma multidão de fundamentalistas fanáticos prega a demolição da Mesquita de Al-Acqsa, em Jerusalém, para a construir no local o novo Templo de Salomão.

Ora, essa mesquita é o terceiro lugar mais sagrado do Islã e foi construída no século VII, onde Maomé teria sido arrebatado ao céu.

O roteiro do apocalipse pode estar começando a ser escrito, uma vez que os países muçulmanos não vão ver a destruição da mesquita Al-Acqsa de braços cruzados. Sem falar do projeto de Trump de transferir a embaixada americana para Jerusalém. Como se sabe,  a parte Leste da cidade, hoje ocupada por Israel, seria a capital do sempre adiado Estado Palestino.

Freud, que manteve uma correspondência com Einstein sobre a guerra e as pulsões que levam os homens a matar e exterminar seus semelhantes, nunca defendeu o sionismo.

Ao contrário, manifestou-se contra a criação de um Estado para os judeus na Palestina. Uma carta na qual ele expressa claramente sua pouca simpatia pelo projeto sionista foi escondida deliberadamente durante décadas pelos defensores da causa sionista.

As cartas de Freud são um capítulo à parte na sua obra. A maior parte delas é conhecida e estudada exaustivamente. Um terço das cartas, classificadas como confidenciais por seus descendentes e herdeiros, faz parte do “Arquivo Freud” e encontra-se na Biblioteca do Congresso, em Washington.

A carta em que Freud faz restrições ao sionismo foi escrita em 26 de fevereiro de 1930 e endereçada a Chaim Koffler, membro da Fundação para a Reinstalação dos Judeus na Palestina (Keren Hayesod). Koffler havia pedido a Freud, como a outros intelectuais judeus, um texto de apoio à causa sionista.

Traduzida por Jacques Le Rider para o francês, ela foi publicada pela revista Le Nouvel Observateur em dezembro de 2004, depois de ter sido revelada pelo jornal italiano Corriere della Sera, em julho de 2003.  Em 1978, fora citada em inglês num artigo dedicado a Freud e a Herzl e em 1991, depois de ter sido mencionada em uma revista semanal argelina para mostrar que Freud não tinha simpatia pelo sionismo, ela foi finalmente traduzida em inglês pelo psicanalista americano Peter Loewenberg, para provar que Freud fora vencido pela História.

Nenhum olho humano deve ler essa carta


O texto da carta mostra o quanto Freud era cético em relação ao projeto sionista de reinstalação dos judeus na Palestina. Por isso mesmo, ela foi cuidadosamente escondida por tanto tempo para cumprir a promessa de Abraham Schwadron a Koffler de que “nenhum olho humano a veria”. Dada a autoridade moral do autor, a carta poderia ser uma pedra no caminho dos que construíam o projeto sionista.

Em um dos trechos, Freud diz: “não penso que a Palestina possa vir a tornar-se um Estado judaico”. Como lembra a historiadora da psicanálise Elisabeth Roudinesco, Freud combatia todas as formas de religião, inclusive o judaísmo. “Ele aceitava dificilmente a idéia de um Estado judaico viável, pois tal Estado feito por e para os judeus não poderia ser, no seu entender, um Estado secular”.

No final da carta, Freud fala do sionismo como de “uma esperança injustificada” e diz que não se sente capaz de exercer o papel de consolador de um povo “perturbado” por essa esperança.

Eis o texto que traduzo para o português a partir da tradução francesa de Le Rider:

Viena, 19 Berggasse,
         26 de fevereiro de 1930.
Senhor Doutor,

Não posso fazer o que o senhor deseja. Minha dificuldade em despertar o interesse do público por minha personalidade é impossível de superar e as circunstâncias críticas atuais não me parecem favorer essa empreitada. Quem quer influenciar o maior número de pessoas deve ter algo de empolgante a dizer, e isso meu julgamento pouco entusiasmado pelo sionismo não me permite. Tenho com certeza os melhores sentimentos de simpatia pelos esforços consentidos livremente, sinto-me orgulhoso pela nossa universidade de Jerusalém e me regozijo da prosperidade dos estabelecimentos dos nossos colonos. Mas, por outro lado, não penso que a Palestina possa vir a tornar-se um Estado judaico nem que o mundo cristão, como o mundo islâmico, possam um dia estar dispostos a confiar seus lugares santos aos cuidados dos judeus. Me pareceria mais sensato fundar uma pátria judaica sobre um solo não conotado historicamente; decerto, sei que para um objetivo tão racional, jamais seria possível suscitar a exaltação das massas nem a cooperação dos ricos. Admito também, com pesar, que o fanatismo irrealista de nossos compatriotas tenha sua parte de responsabilidade no despertar da desconfiança dos árabes. Não posso ter a mínima simpatia por uma piedade mal interpretada que faz de um pedaço do muro de Herodes uma relíquia nacional e por causa dela desafie os sentimentos dos habitantes da região.

Julgue o senhor mesmo se, com um ponto de vista tão crítico, eu posso ser a pessoa certa para fazer o papel de consolador de um povo perturbado por uma esperança injustificada. Freud.

Dezessete anos depois de escrita a carta, o Estado de Israel deixou de ser um sonho dos sionistas para se tornar realidade.

Lugares santos no centro da querela


Mas quem pode dizer que Freud não anteviu a catástrofe?

Elisabeth Roudinesco assinala que “Freud teve a intuição magistral de que a questão da soberania dos lugares santos estaria um dia no centro de uma querela quase insolúvel, entre os três monoteísmos. Ele temia, com razão, que “uma colonização abusiva acabasse por opor, em torno de um pedaço de muro idolatrado, os árabes fanáticos e anti-semitas aos judeus fundamentalistas e  racistas”.

Num magnífico artigo publicado no jornal Le Monde de 18 de agosto de 2006, o filósofo Etienne Balibar e o físico Jean-Marc Lévy-Leblond percorrem a história de Israel para analisar a atualidade política do Oriente Médio e todas as ameaças que pesam sobre o mundo, em função do barril de pólvora em que se transformou a região.

No terceiro parágrafo do brilhante texto, os dois intelectuais escrevem: “A segunda guerra mundial foi um ponto de ruptura: ela trouxe o enfraquecimento do império britânico e levou à Palestina centenas de milhares de pessoas que escaparam à exterminação dos nazistas. O que conferiu ao Estado de Israel, criado pela “partilha” de 1947, uma nova legitimidade moral, sancionada pelo reconhecimento internacional quase unânime e pela admissão às Nações Unidas. O que não impede que o Estado que se proclamou como “Estado judaico” (apesar da presença em seu seio de uma grande minoria árabe muçulmana e cristã) e se deu por missão reunir no seu solo o maior número possível de judeus religiosos ou leigos do mundo inteiro (imigrantes recentes ou assimilados há muitos anos em seus países respectivos, vindos de culturas diversas e sendo vítimas de anti-semitismo em graus muito diferentes) tenha nascido na guerra e mesmo no terrorismo. Isso por causa da hostilidade irredutível (ao menos até a iniciativa do presidente Sadat) dos Estados árabes que o cercavam, por causa do próprio nacionalismo e panarabismo ascendente que os levavam a recusar a instalação de Israel na Palestina, depois a desejar sua destruição e padecer sua intenção simétrica, mais ou menos confessada, de expulsar a população árabe autóctone.

Balibar e Lévy-Leblond continuam: “A frase de Golda Meir: ‘uma terra sem povo para um povo sem terra’ – em total contradição com a realidade – trazia em si uma lógica de eliminação, que continha em germe os elementos da catástrofe atual. Essa lógica de eliminação foi imediatamente denunciada por certos intelectuais (como Einstein, Buber, Arendt ou o fundador da universidade hebraica de Jerusalém, Judah Magnes)”. 


* Leneide Duarte-Plon é autora de « A tortura como arma de guerra-Da Argélia ao Brasil : Como os militares franceses exportaram os esquadrões da morte e o terrorismo de Estado » (Editora Civilização Brasileira, 2016)».



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sábado, 29 de abril de 2017

Ilan Pappé, historiador israelense, recebe homenagem de árabes e muçulmanos



Illan Pappé é homenageado no Brasil
Vice presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil,
 Dr. Ali Hussein El Zoghbi (esq.) entrega homenagem ao escritor Ilan Pappé


Ilan Pappé, esteve no Brasil para o lançamento do seu livro “A limpeza étnica da Palestina”, cujo original em inglês data de 2006.

Os seus estudos e livros lhe renderam a perseguição por parte do regime sionista de Israel e hoje vive exilado na Inglaterra onde é professor na Universidade de Exeter.

Pappé participou de várias palestras de lançamento do seu livro e concedeu uma entrevista para o jornal Folha de São Paulo (https://goo.gl/0EsxKw).

Durante almoço oferecido pela Federação de Associações Muçulmanas do Brasil, o vice presidente, Dr. Ali Hussein El Zoghbi prestou a homenagem ao escritor Pappé na presença de membros da comunidade árabe e muçulmana.

Foi com muita honra que me sentei ao lado de Ilan Pappé e pude conhecer um pouco mais deste corajoso e brilhante intelectual e acadêmico que não compactuou com a narrativa da colonização sionista de ocupação e expulsão do povo palestino de sua pátria palestina. 

Como também, foi uma honra poder compartilhar a mesa com o escritor Milton Hatoum.


Emir Mourad

Editor do Blog 





Illan Pappe, historiador israelense,



Livro de Illan Pappé é lançado no Brasil


Illan Pappé lança seu livro no Brasil "Limpeza étnica da Palestina"


Illan Pappé autografa seu livro


Lançamento de livro de Illan Pappé no Brasil


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Matérias realacionados com Ilan Pappé:




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quarta-feira, 19 de abril de 2017

Centenas de presos palestinos em greve de fome nas prisões de Israel

Atualizado em 29/05/17:

Israel cedeu em 80% das reivindicações dos presos políticos palestinianos

A greve de fome dos prisioneiros palestinianos nos cárceres israelitas foi suspensa na madrugada de sábado, ao 40.º dia, depois de intensas negociações. Tratamentos médicos e visitas de familiares são as principais conquistas.

Palestinos seguram uma bandeira gigante do seu país na manifestação que teve lugar em Ramallah (Margem Ocidental ocupada) para assinalar o 69.º aniversário da Nakba (catástrofe)CréditosAlaa Badarneh / EPA


De acordo com a agência noticiosa palestina Ma'an, o líder do Comité Palestiniano para as Questões dos Prisioneiros, Issa Qaraqe, afirmou este domingo que «80% das exigências foram atendidas» pelo Serviço Prisional de Israel.

Um comité composto por seis presos políticos em greve de fome (entre eles Karim Yunis, o prisioneiro palestiniano há mais tempo encarcerado por Israel, e Marwan Barghouti, dirigente histórico do movimento Fatah) estiveram durante 20 horas em negociações para a suspensão do protesto.

Qaraqe considerou as conquistas como «uma transformação fundamental em termos de qualidade de vida dos prisioneiros». O comité de seis prisioneiros vai manter negociações relativamente às reivindicações que ainda não tiveram resposta, informa ainda a Ma'an.




Prisioneiros palestinos em greve de fome

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Atualizado em 27/05/2017:



DEPOIS DE 41 DIAS, PRISIONEIROS PALESTINOS SUSPENDEM GREVE DE FOME APÓS IMPORTANTE VITÓRIA

VIVA A CORAGEM, A BRAVURA DESSES PRISIONEIROS QUE LUTAM POR LIBERDADE E JUSTIÇA PARA SEU POVO PALESTINO


PARABÉNS AOS PRISIONEIROS E AO POVO PALESTINO!


- PRISIONEIROS PALESTINOS ENCERRAM GREVE DE FOME APÓS 41 DIAS


- PRESOS PALESTINOS SUSPENDEM GREVE DE FOME APÓS 40 DIAS


- Palestinian Prisoners End Mass Hunger Strike


-          معا تكشف.. هذا ما جرى في مفاوضات عسقلان

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Atualizado em 30/04/2017:



#ÁguaSalCampanha

Campanha  da “Água e Sal”
As pessoas estão se posicionando em solidariedade com  os prisioneiros palestinos que estão em greve de fome  com a
 #ÁguaSalCampanha


#SaltWaterChallenge

Campaign Salt Water Challenge
People are standing in solidarity with Palestinian prisoners who are on hunger strike with the #SaltWaterChallenge


Greve de fome dos prisioneiros palestinos





“Desde 17/04/2017 (há 13 dias) mais de 1.000 presos palestinos estão em greve de fome, um protesto para denunciar o desrespeito a direitos fundamentais cometido pelo governo sionista de Israel.

Os presos demandam diversas pautas, como visitas regulares de suas famílias, o fim da detenção administrativa e acesso a atendimento médico.

A intenção desse vídeo é chamar a atenção de brasileiros e brasileiras para o que está acontecendo na Palestina.

Esse vídeo é um esforço de um Palestino que está longe de sua terra em apoiar seu povo, sua luta e sua causa.”


O texto acima é de Amjad Milhem, refugiado palestino que chegou ao Brasil em 2014 e que inaugurou seu canal no Youtube “PAPO PALESTINO” com este vídeo em solidariedade aos prisioneiros palestinos









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Atualizado em 27/04/2017


27/04/17 - Palestinos aderem massivamente à greve geral em apoio aos presos em Israel

Lojas, bancos, fábricas e todas as instituições públicas dos territórios palestinos permaneceram fechadas





27/04/17 - Greve geral dos palestinos em apoio aos presos em greve de fome




26/04/17 - Em luta histórica, prisioneiros palestinos convocam apoio mundial

Quase um milhão de palestinos e palestinas passaram pelas prisões de Israel desde o estabelecimento do Estado, em 1948, estimam associações palestinas. Mas esta história remonta ainda à colonização britânica da região, com casos como o de Hassan Al-Labadi, por mais de 40 anos enterrado no cárcere. A greve de fome anunciada há uma semana por prisioneiros palestinos manifesta a resistência persistente e o fortalecimento da causa nacional por libertação.


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Publicado em 19/04/17:

Centenas de presos palestinos  em greve de fome nas prisões de Israel

Maruan Barghuti lidera greve de fome dos prisioneiros palestinos
Os protestos, por melhores condições  de detenção, são encabeçados por Barguti, líder da segunda intifada

São mais de 1500 os presos palestinos em greve de fome, por tempo indeterminado, que protestam contra as condições de detenção nas prisões controladas por Israel. A luta sem precedentes é encabeçada por Maruan Barghuti, dirigente da Fatah e da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), que encabeçou a segunda intifada [revoltas de rua e populares contra a ocupação israelense do território da Palestina] (2000-2005).

O dirigente palestino com maior prestígio no seu país, considerado, pelos seus, uma espécie de Mandela palestiniano, está há 15 anos preso e cumpre uma condenação, determinada pelos ocupantes israelenses, de prisão perpétua. Muitos palestinos veem-no como um dirigente não corrupto e com a força moral e ética para ser o futuro presidente de um Estado independente da Palestina. Os seus carcereiros israelenses acusam-no de ter sido o chefe da Tanzim, o braço armado da resistência palestina que segue as orientações da Fatah, partido nacionalista laico. Barghuti foi condenado a cinco prisões perpétuas e mais de 40 anos de prisão por “terrorismo”.

Nas prisões de Israel e de territórios palestinos ocupados militarmente desde a guerra de 1967 estão detidos cerca de 6500 palestinos, incluindo 300 menores de idade. Segundo as organizações de direitos humanos, entre os presos encontram--se 62 mulheres, 13 deputados palestinos e 23 doentes em estado terminal.

Mais de 500 presos estão detidos em regime de detenção administrativa [semelhante às medidas de segurança nos tempos da ditadura em Portugal], que permite que uma pessoa esteja detida por tempo indeterminado sem lhe ser feita qualquer acusação e sem ser sujeita a um julgamento.

O número de palestinos presos não para de aumentar desde 2015, quando os protestos palestino se tornaram violentos, com a chamada intifada das facas ou dos lobos solitários, na sequência da qual foram detidas mais de 10 mil pessoas.


Em artigo publicado no “The New York Times”, o líder palestino preso, Maruan Barghuti, defende que a greve de fome iniciada nesta segunda-feira tem como objetivo “pôr fim aos abusos nos centros penitenciários” e que “Israel estabeleceu um apartheid judicial que garante a impunidade dos israelitas que cometem crimes contra os palestinos e criminaliza a existência de uma resistência palestina”. Barghuti denuncia a situação nas cadeias em que estão detidos os presos palestinianos como elementos da política do Estado hebreu para liquidar fisicamente os palestinos: “Os prisioneiros sofrem torturas, tratamentos degradantes e inumanos, falta de assistência médica [em consequência de tudo isso] alguns morrem durante a sua prisão.”

Fonte: SolSapo
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Matérias do arquivo do Blog:





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segunda-feira, 27 de março de 2017

Palestina: o Dia da Terra


Atualizado em  05/04/17:


Entidades sindicais realizam audiência pública em solidariedade ao povo palestino



A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e demais entidades sindicais filiadas à Federação Sindical Mundial (FSM) promoveram, nesta terça-feira (4) na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, uma audiência pública como parte das ações do Dia de Solidariedade ao Povo Palestino.

O evento contou com a participação do embaixador da Palestina do Brasil, Ibrahin Alzeben, que fez um resgate histórico sobre a resistência do povo daquele país e agradeceu o apoio internacional. Ele lembrou que o que ocorre na região “não é guerra é genocídio”, ao se referir ao poder belicista de Israel.


Saiba mais sobre a Audiência Pública: https://goo.gl/qa91cx


Conheça o documento de solidariedade ao povo palestino assinado pelas entidades entregue ao embaixador da Palestina no Brasil ao término da Audiência Pública: https://goo.gl/fNIwN5

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Comemoração do Dia da Terra da Palestina





Palestinos: O Dia da Terra

Publicado na Folha de S. Paulo em 29.03.1985.

Por Maurício Tragtenberg*

 Amanhã, dia 30, o povo palestino comemora o “Dia da Terra”, que surgiu como lembrança histórica da resistência que em 1976, os vários palestinos da Galiléia (território ocupado em 1948) manifestaram contra a invasão e ocupação de suas terras pelo Estado em Israel.

 Como acontece nessas ocasiões houve repressão e violência por parte das autoridades militares de ocupação, onde foram indiscriminadamente atingidos homens, mulheres, velhos e crianças. É impossível destruir um povo que por mais de trinta séculos construiu sua cultura, suas obras materiais e espirituais.

 Enquadrada no plano da destruição da cultura e identidade do povo palestino estão as universidades palestinas construídas nas ‘zonas ocupadas’ pelo Estado em Israel.

  Através da Ordenança Militar 854, uma das 1.080 ordenações militares que modificam a legislação jordaniana, em vigor na Cisjordânia, o Estado detém em suas mãos a permissão de funcionamento de qualquer instituição educacional, que implica no controle pelas autoridades do pessoal acadêmico, dos programas e manuais de ensino.

  Uma das iniciativas que afetou gravemente o funcionamento das universidades palestinas nas ‘zonas ocupadas’ foi que a partir de 1983 os professores estrangeiros –na realidade palestinos com passaportes de diversas nacionalidades estrangeiras – tenham que assinar uma declaração, segundo a qual, comprometem-se a não dar apoio algum à OLP nem a qualquer organização terrorista. Ante a recusa unânime do corpo de professores em assinar tal ignominioso papel, a repressão foi terrível.

  A Universidade d’An-Najah teve dezoito professores expulsos, enquanto outros três que estavam no Exterior foram proibidos de ingressar na Cisjordânia. Bir-Zeit perdeu cinco e a Universidade de Bethléem perdeu doze de seus professores.

  O fechamento temporário de universidades é outra medida que as “autoridades” de ocupação lançam mão; entre 1981/2 a Universidade de Bir-Zeit ficou fechada sete meses. A Universidade de An-Najah em 1982/3 ficou fechada durante três meses consecutivos, as Universidades de Bethléem e Hebron conheceram igual destino.

  Com o fim de vencer a resistência cultural palestina, a detenção de estudantes pelos motivos mais fúteis é coisa comum em todas as universidades da Cisjordânia. Os detidos são confinados na prisão de Fara’a, no Vale do Jordão. Segundo a advogada Lea Tsemel, o detido, conforme a “lei de urgência” (do período do Mandato Britânico) pode ficar incomunicável durante dezoito dias, sem culpabilidade definida nem visita de advogado. Por trazer consigo um panfleto ilegal o detido pode assim ficar durante 48 dias.

  O “tratamento” é o mais degradante possível: duchas frias, golpes, insultos.

  O presidente do Conselho de Estudantes de An-Najah, condenado a seis anos de prisão em 1974, não só afirmou ter sido torturado como também afirmou: “todos os prisioneiros palestinos são torturados.”

  Porém, a Universidade de Bir-Zeit é um foco de resistência cultural palestina; organiza atividades culturais fundada na cultura popular palestina. Possui uma biblioteca significativa aberta à consulta pública.

  Os dados a respeito da situação de resistência cultural palestina acima descrita nos foram fornecidos por Sônia Dayan-Herzbrun e Paul Kessler, que testemunham: “O fato de sermos judeus não afeta nossa objetividade em relação ao tema tratado. A consciência de nossa identidade judaica e das responsabilidades inerentes a ela nos levaram a participar do Centro de Cooperação com a Universidade Bir-Zeit.” (Le Monde Diplomatique, julho de 1984)

É o que também pensamos. O “Dia da Terra” é a reafirmação de um povo que pode ser expropriado, espezinhado, torturado, caluniado;vencido nunca.



* Maurício Tragtenberg, 54, professor do Departamento de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas SP) e da PUC-SP, escreveu, entre outros livros, “Administração, Poder e Ideologia.


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